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Vegetarianismo na infância

O vegetarianismo está crescendo exponencialmente em todo o mundo nos últimos anos. A Médica Pediatra Caterina Augusta Mossi Frizzo fala sobre o assunto no texto que escreveu para o site. O vegetarianismo é um fenômeno que

O vegetarianismo está crescendo exponencialmente em todo o mundo nos últimos anos. A Médica Pediatra Caterina Augusta Mossi Frizzo fala sobre o assunto no texto que escreveu para o site.

O vegetarianismo é um fenômeno que merece ser acompanhado de perto, considerando-se, principalmente, a questão da sustentabilidade. Muitas vezes as famílias optam por uma dieta vegetariana ou vegana, em outras são as crianças que optam, por conta própria, interromper o consumo de produtos de origem animal. Como médica pediatra – e vegetariana minha vida toda – me deparo ainda com muitas dúvidas por parte das famílias em relação a implementação da dieta vegetariana de forma saudável na vida de seus filhos. 
Os motivos para aderir ao vegetarianismo são inúmeros, desde questões ambientais, direitos dos animais e também para um estilo de vida mais saudável e sustentável. Estudos recentes demonstraram que uma dieta balanceada, sem a ingestão de carne e derivados animais, é sim capaz de promover o crescimento e desenvolvimento adequado de crianças e adolescentes. Existe mais de um tipo de dieta vegetariana, sendo elas:

  • Veganismo: exclui todos os produtos de origem animal. Pode ser parte de uma prática maior de se abster do uso de produtos de origem animal para quaisquer propósitos;
  • Ovovegetarianismo: inclui os ovos, mas não inclui laticínios;
  • Lactovegetarianismo: inclui os laticínios, mas exclui os ovos;
  • Ovolactovegetarianismo: inclui ovos e laticínios.


O vegetarianismo é considerado uma dieta saudável e viável, tanto pela Academy of Nutrition and Dietetics, quanto pela  Dietitians of Canada. Essas instituições constataram que uma dieta vegetariana bem planejada e bem equilibrada pode satisfazer as metas nutricionais de todos os estágios da vida. Isso inclui a gravidez, lactação, infância e adolescência, além da vida adulta. Já em comparação com a dieta onívora, as dietas vegetarianas têm menores níveis de gorduras saturadas, colesterol e proteína animal, e níveis relativamente maiores de carboidratos complexos, fibras, magnésio, potássio, vitaminas C e E, e fitoquímicos. Os vegetarianos possuem IMC (índice de massa corporal) menor, menos colesterol e pressão arterial mais baixa, apresentando risco diminuído de desenvolvimento de certas condições de saúde, incluindo doenças cardíacas isquêmicas, diabetes tipo 2, hipertensão, certos tipos de câncer e obesidade.
Quanto a ser utilizada na infância, é importante que a dieta de toda criança, seja ela vegetariana ou não, seja monitorada pelo Pediatra e Nutricionista para verificar se atende às suas necessidades nutricionais. Durante os primeiros anos de vida, temos maiores exigências nutricionais em relação ao crescimento e desenvolvimento biológicos, em comparação a vida adulta. Mesmo assim, é perfeitamente possível alcançar a ingestão adequada de macro e micronutrientes em diferentes tipos de dietas vegetarianas, por meio de uma dieta saudável e variada.
 Como exemplo, apresento alguns nutrientes específicos de interesse na dieta vegetariana bem como suas fontes:

  • Ferro: a adoção da dieta vegetariana não é um fator de risco para deficiência de ferro, tendo em vista que a menor biodisponibilidade de ferro vegetal é compensada pela maior ingestão de alimentos ricos nesse nutriente. Recomenda-se o consumo de cereais fortificados com ferro, além de feijões, castanha de caju, lentilha, aveia, uva passa, semente de girassol, melado, tempeh. Importante observar que a ingestão desses alimentos deve ocorrer juntamente com alimentos ricos em Vitamina C (frutas cítricas, por exemplo), para facilitar a absorção do ferro presente nos alimentos vegetais. Vale também ressaltar que os fitatos (presente nas leguminosas), assim como as fibras, cálcio e polifenóis (chás) diminuem a absorção do ferro.
  • Uma dica legal é deixar o feijão de molho por 12 horas e desprezar essa água antes do cozimento pois isso diminui a concentração de fitato e aumenta a biodisponibilidade do ferro do alimento. 
  • Também é recomendado que todas as crianças, independente da dieta, recebam suplementação de ferro para prevenção de anemia dos 3 meses até os 2 anos de idade, conforme os critérios da Sociedade Brasileira de Pediatria. 
  • Vitamina B12: as plantas são uma fonte precária de B12, sendo que pode ser obtida por meio de laticínios e ovos. Já os veganos necessitam de alimentos fortificados ou de suplementação. É importante monitorar a Vitamina B12 não só em crianças veganas e vegetarianas, mas também em crianças onívoras, pois a deficiência de B12 tem sido recorrente na população em geral, acometendo mais de 40% da população onívora na América Latina, não sendo, portanto, exclusiva de pessoas vegetarianas. 
  • Ácidos graxos ômega 3 e 6: Alimentos ricos em ômega 6, como as sementes de girassol, gergelim, nozes, castanhas, óleo de soja, girassol, milho e algodão e as  fontes de ômega 3 como as algas, avelãs, óleos de canola, linhaça, chia, nozes e soja são importantes para crescimento e desenvolvimento da retina e do cérebro. Uma boa dica é incluir 1 colher de chá de óleo de linhaça ou chia nas refeições. 
  •  Vitamina D: Os níveis apropriados de vitamina D dependem da exposição solar regular e da ingestão de alimentos fortificados ou suplementos, pois somente em torno de 10% são provenientes de fontes dietéticas. Atualmente, é recomendada a suplementação de Vitamina D em todos recém-nascidos até os 2 anos de idade;
  • Cálcio: Encontrado em verduras de folhas verdes como brócolis, couve, repolho chinês (melhor em fontes com baixo teor de oxalato para sua melhor absorção); 
  • Cálcio e vitamina D são também encontrados nas amêndoas e leite de soja. 
  • Zinco: encontrados em produtos à base de soja, legumes, grãos, queijos e nozes.
  • Proteínas: as maiores fontes de proteínas vegetais são encontradas nas leguminosas, como lentilha, feijões, grão de bico e soja, além de cereais, nozes e sementes. Como a quantidade, qualidade e digestibilidade destas fontes são muito variáveis, o que garante a oferta adequada de aminoácidos essenciais é o consumo variado destes alimentos. A famosa combinação de arroz e feijão, por exemplo, oferece todos os aminoácidos essenciais. 

Claro que não poderíamos deixar de salientar que a alimentação do recém-nascido deve ser feita exclusivamente pelo aleitamento materno até os 6 meses de vida – o alimento perfeito para a nutrição do bebê -, devendo ser mantido pelo menos até os 2 anos de idade. Fundamental também, nessa fase, monitorar a dieta materna para que seja adequada em fontes boas de ácidos graxos essenciais, folato, ferro, zinco e vitamina B12.
E, por fim, vale lembrar que, além de saudáveis, essas dietas difundem uma consciência de valor à vida, em todas as suas formas, e não apenas a humana. 
 
Texto escrito pela Médica Pediatra Caterina Augusta Mossi Frizzo.

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