Autismo e dieta
Pessoas com Transtorno do Espectro Autista precisam de restrições alimentares? A nutricionista Luciana Pacheco esclarece essa dúvida no texto que escreveu para o site. O autismo é um dos mais conhecidos, entre os Transtornos Invasivos
Pessoas com Transtorno do Espectro Autista precisam de restrições alimentares? A nutricionista Luciana Pacheco esclarece essa dúvida no texto que escreveu para o site.
O autismo é um dos mais conhecidos, entre os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, é caracterizado pelo atraso no desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. Em razão de alguns estudos sugerirem que pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) têm mais chance de serem celíacas, intolerantes a lactose e alérgicas, intervenções dietéticas e tratamentos alternativos tem se popularizado cada vez mais entre pais e cuidadores, como, por exemplo, a dieta livre de glúten (proteína encontrada em alimentos como trigo, cevada, centeio…) e caseína (proteína do leite e derivados) pela hipótese de que causam hiperatividade, falta de concentração, irritabilidade, dificuldade na interação da comunicação e sociabilidade.
Contudo, estudos científicos direcionados ao uso dessa dieta para o tratamento de portadores de TEA têm obtido resultados controversos, sem nenhum tipo de evidência conclusiva, não fundamentando, portanto, o uso destas intervenções que NÃO SÃO RESPALDADAS. Mesmo sem dados conclusivos, muitos pais e cuidadores inserem a dieta na alimentação do portador de TEA, mas isso pode trazer sérios prejuízos, porque?
1 – A adoção de restrições alimentares sem acompanhamento nutricional, pode acarretar em riscos de deficiências nutricionais e desnutrição, podendo prejudicar também o desenvolvimento das crianças, a interação social e piorar os sintomas;
2 – A retirada do glúten de portadores de TEA só é indicada se houver diagnóstico de doença celíaca. Contudo, o diagnostico só pode ser realizado se a pessoa está exposta ao glúten, por isso JAMAIS deve-se retirar glúten da dieta antes da adequada pesquisa de doença celíaca.
3 – Como pessoas com TEA podem ter mais chances de serem intolerantes à lactose, é importante que NA PRESENÇA DE sintomas de desconforto abdominal após consumir leite e derivados, seja feita a investigação da intolerância à lactose com um bom gastroenterologista/gastropediatra, antes de sair excluindo alimentos desnecessariamente da alimentação;
4 – O mesmo vale para a maior chance de pessoas com TEA serem alérgicas, é muito importante o acompanhamento e a investigação de alergias alimentares com um bom alergista, antes de excluir alimentos desnecessariamente;
5 – Já é documentado na literatura científica que pessoas com TEA apresentam uma relação complicada com a comida, com a recusa de diversos alimentos, seletividade alimentar e indisciplina. A restrição de alimentos sem necessidade só pioraria a relação dessas pessoas com a comida, além de prejudicarem a interação social com outras crianças, em razão de não poderem consumir os mesmos alimentos que os demais;
6 – Apesar de ser um assunto delicado, sabendo que os pais só querem fazer o melhor para os seus filhos, alertamos para que não façam seus filhos de cobaias, pois determinadas intervenções além de não ajudarem, podem piorar a situação e prejudicar a saúde;
7 – A recomendação válida é dieta saudável.
Texto escrito pela nutricionista Luciana Pacheco.
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